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Realização 2011: Revista GEO, Instituto Butantan

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Mais sobre o parceiro do Action Day Brasil 2011 - perspectivas de pesquisa em biodiversidade

No início, um desafio: vencer barreiras políticas e burocráticas para atuar em uma região rica em material de pesquisa da especialidade do Instituto Butantan, mas fora de sua área de atuação. Mas a proposta acadêmica e a interação com a comunidade foram bons argumentos para atrair recursos, parceiros e iniciar, com o apoio de todos os mecanismos legais pertinentes, um trabalho cooperativo misto de estudo e preservação.

Quem explica as relações do Instituto Butantan, de São Paulo, com a cidade de Belterra, no Pará, é Giuseppe Puorto, pesquisador científico da instituição, um dos envolvidos no projeto "Butantan AMAZÔNIA - MUIRAQUITAN BRASIL: Desenvolvimento, Ciência, Consciência". Esse é o novo nome do antigo projeto "Butantan na Amazônia", como ficaram conhecidas as primeiras ações do Instituto em território amazônico. O foco: o estudo de animais peçonhentos, cuja relação com os habitantes da área é cada vez mais próxima, a ponto de esta oferecer riscos à saúde pública local.

"Pelas características da região todos os grupos de animais peçonhentos estão presentes na área, cada qual em seu habitat",  relata Puorto. "As comunidades ribeirinhas e rurais, pelos seus meios de vida, convivem com os peçonhentos desde que cada comunidade se estabeleceu. O crescimento das cidades e a expansão das fronteiras agrícolas favorecem cada vez mais o encontro do homem com os peçonhentos".

Neste encontro estão envolvidos aspectos culturais, folclóricos e conhecimentos tradicionais que podem ou não favorecer o relacionamento com os animais peçonhentos, explica o pesquisador. "Nossa intenção é mostrar à população que os peçonhentos fazem parte do meio e conduzir os acidentes de forma correta respeitando-se a cultura local", ressalta Puorto, e dá mais detalhes das pesquisas conduzidas na região, a seguir:

GEO - Como surgiu a ideia do projeto, hoje com novo nome?
PUORTO - O projeto Butantan Amazônia passou a ter uma nova identidade: "Butantan AMAZÔNIA - MUIRAQUITAN BRASIL: Desenvolvimento, Ciência, Consciência". O início ocorre após uma visita do Dr. Otavio A.Mercadante, na época Diretor do Instituto Butantan, à região de Santarém (PA). Dr. Otavio fica sabendo do grande número de acidentes com animais peçonhentos na região e vislumbra a potencialidade de alguma ação na área. Lá já acontecia o evento local "Jornada de doenças tropicais". O Hospital Regional de Santarém, que atende acidentes com animais peçonhentos, também tinha e tem um programa do qual participa um médico do Instituto Butantan (IB).

Dr. Mercadante expõe a idéia de uma base de pesquisa do IB na Amazônia a um grupo de pesquisadores que aceitam tentar o desafio. Em 2005 é organizado um grupo de pesquisadores que visita a região e também participa da “Jornada de doenças tropicais”. Contatos e visitas são realizados no sentido de viabilizar ações, possíveis parcerias e um local físico onde poderia ser instalada uma base.

A ideia inicial girava em torno da formação de doutores na área, formados com apoio e colaboração do IB e pudessem atuar na própria região. O prefeito de Belterra se interessa pelo projeto, se propõe a colaborar e viabilizar uma área para que a base possa ser instalada. A FIT - Faculdades Integradas do Tapajós, instituição de ensino privada, que tem uma Coleção Herpetológica e um herpetólogo na equipe de professores também se interessa pelo projeto e se propõe a ser um de nossos parceiros. O PSA - Projeto Saúde Alegria, ong com ações em saúde, também se interessa pelo projeto e se propõe a ser um futuro parceiro, visto que suas ações de saúde muitas vezes se deparam com acidentes com animais peçonhentos. Com a possibilidade real do projeto ir adiante seria necessário vencer as barreiras burocráticas e políticas: O IB, órgão da Secretaria da Saúde do Governo de São Paulo, atuando no Estado do Pará! A solução encontrada foi fazer uma parceria Fundação Butantan/I. B. e a OSCIP Ama Brasil com o objetivo de captação de recursos junto a instituições públicas e privadas. Foi solicitado e aprovado recurso do BNDES dentro do PAC Cidades Históricas, para restauro de prédios históricos de Belterra e cessão para utilização pelo IB. Além disso foi cedida área de 64 hectares para a Ama Brasil, para preservação, pesquisa em biodiversidade e educação ambiental, atividades a serem desenvolvidas pelos pesquisadores do Butantan.

Na segunda viagem, em abril de 2006, sentiu-se a necessidade de atuar junto à comunidade local, além da comunidade acadêmica. Para setembro de 2006 foi organizado um evento “Animais Peçonhentos e Perspectivas de Desenvolvimento Científico para a Amazônia” com as seguintes atividades:

1- Workshop: “Pesquisa e pós-graduação na Região de Santarém”

2- Curso: Introdução à Biodiversidade e biotecnologia: Animais Peçonhentos, Venenos, e Envenenamentos na Região de Santarém”

3- Oficinas de trabalho: “Animais Peçonhentos e Prevenção de Acidentes”

Com este evento, as Universidades Públicas (UEPA, UFOPA) também se interessam pelo projeto e abre-se um canal de parcerias acadêmicas.

GEO - Então há um claro objetivo em se manter uma base de pesquisa em Belterra?
PUORTO - A região de Santarém apresenta alto índice de acidentes com animais peçonhentos. Apresenta enclaves de cerrado na Floresta Amazônica e, todos os grupos de animais peçonhentos de interesse em saúde pública (Serpentes dos quatro gêneros: Bothrops – jararacas; Crotalus – cascavel; Lachesis – surucucu e Micrurus – coral; aranhas, escorpiões e arraias). Desta forma há a possibilidade de se estudar a fauna local e os venenos destes, usando-os como objetos de pesquisa e formação de pessoal.

GEO - Como se dá, efetivamente a interação com a comunidade?
PUORTO - Com a comunidade acadêmica (biologia, medicina e enfermagem), ela se dá por meio de cursos teóricos e práticos, workshops e seminários.

Com a comunidade de saúde (ACS – Agentes Comunitários de Saúde, Enfermagem, Médicos), por meio de cursos e oficinas sobre animais peçonhentos – reconhecimento prático dos animais peçonhentos, epidemiologia, ações dos venenos, encaminhamento, primeiros socorros, tratamento, prevenção de acidentes.

Com a comunidade estudantil e professores: oficinas sobre animais peçonhentos – reconhecimento prático dos animais peçonhentos, função na natureza relação presa-predador, relação homem-animal, função do veneno, táticas defensivas do animais, folclore, conhecimentos tradicionais, primeiros socorros e caminhamento, prevenção de acidentes.

Comunidade geral: ribeirinhos, comunidades rurais e urbanas, líderes comunitários, produtores rurais, bombeiros, defesa civil - oficinas sobre animais peçonhentos – ocorre o reconhecimento prático dos animais peçonhentos, função na natureza, relação presa-predador, relação homem-animal, função do veneno, táticas defensivas dos animais, folclore, conhecimentos tradicionais, primeiros socorros e encaminhamento, prevenção de acidentes.

Há também o Programa de Aprimoramento Profissional (PAP): programa da Secretaria da Saúde de São Paulo, com bolsa, para acadêmicos de Santarém, em laboratórios do Instituto Butantan (no momento temos quatro bolsistas).



GEO - Quais são os projetos mais importantes realizados hoje dentro destas iniciativas?

PUORTO - O estudo do veneno do escorpião preto da Amazônia, do veneno da jararaca da Amazônia, dos aracnídeos e anfíbios de Belterra (além da fauna ofídica da Flona Tapajós e lagartas em Belterra), e ainda o projeto memória de Belterra.

No momento estamos dirigindo esforços para construção da base física ou edificação para desenvolvimento de parte das ações na região.

Ainda é prematuro para resultados finais, mas, temos indícios de algumas espécies novas de animais, no entanto é preciso ainda mais tempo e amostras para confirmação.




* Com colaboração de Dr. Otavio Azevedo Mercadante – Coordenador Geral - Butantan Amazônia Muiraquitam Brasil